terça-feira, 20 de abril de 2010

Conto: Um possível fim

* Conto de minha autoria *


Parte I

São eles dois jovens, sem nenhum impedimento. Portadores de toda a liberdade que a juventude oferece. Ele é um garoto comum para a idade. É bonito, simpático e inteligente, com potencial para ser o que quiser ser na vida, mas insiste em ser só mais um garoto comum com seus vinte e poucos anos.
Ela sonha muito, e é insistente ( já que a maioria de seus planos são obstruídos por pessoas de pouca fé ). Se não fosse tão insistente, não teria feito nem a metade das coisas que já fez na vida. Ela é diferente, diferente até demais.
Vez em quando eles se encontram e se perdem um no outro.
Ele nutre por ela uma paixão incontrolável, uma coisa mais forte do que qualquer outro sentimento que já pôde sentir em toda a sua vida comum. Embora ele não admita isso para ninguém, nem para ele próprio (exceto nos momentos sozinhos, entre um cigarro e outro), seu esforço para esconder tal sentimento acaba por deixar bem claro para todo mundo o quanto ele é apaixonado pela moça.
Ela corresponde o sentimento com a mesma intensidade. Vez ou outra tenta demonstrar, mas o aparente descaso dele a desencoraja e por vezes a faz chorar. Ele sabe ser bem convincente quando quer.
E então eles ficam nessa perda de tempo, desperdiçando um sentimento com um potencial tão raro nos dias de hoje. Deviam ser presos por isso.

Parte II

Um dia, enquanto não fazia nada fumando seu cigarro, sua avó, figura doce com quem morava, o surpreendeu com uma carta sem remetente no envelope. Ficou surpreso porque nunca em toda a sua vida recebera uma única carta sequer. Abriu depressa o envelope, era uma carta impressa, redigida por ela o poupando de ver o sofrimento em sua caligrafia:

Meu caro,

Sinto muito mas já não posso mais pensar em você. Me angustia querer te abraçar e ter você tão distante. Me entristece querer falar que te adoro e não o fazer porque você não leva a sério. Me enfurece o ciúme que eu sinto quando sua vida comum de garoto te obriga a ir sempre às mesmas festas conhecer outras garotas.
Adoraria insistir mais neste nosso caso desencontrado, mas você nunca me deixa saber até que ponto você gosta dessa sua vida comum.
Não me incomoda saber que você me ignora (ou pelo menos finge muito bem) no seu universo, em meio aos seus amigos e à sua embriaguez. O que me incomoda é eu me ignorar toda vez que te encontro. O que me incomoda é fingir que você me considera toda vez que algum outro bom rapaz demonstra a intenção de ocupar o lugar que por hora é seu no meu coração.
Reconheço como são maravilhosos nossos momentos juntos, quando nós dois, sem precisar colocar em palavras, podemos experimentar sem culpa e sem medo o que sentimos um pelo outro. Reconheço o poder dos nossos abraços e a força dos nossos beijos sobre mim. Mas todo este encanto cai por terra quando você decide voltar para o seu mundo comum, se obrigando a ser a pessoa comum que você não é.
Desejo que você se desfaça de todo este impedimento e aceite meus beijos e abraços sem nunca mais ter que fugir. Mas como mais do que isso desejo que você seja feliz, espero que você se divirta do seu jeito comum e que isso te satisfaça e te faça alegre.
Agora vou fechar meus olhos e imaginar um último abraço caloroso, bem apertado como em uma despedida, e me lembrar brevemente do toque dos seus lábios nos meus pela última vez, porque eu não consigo mais pensar em você. Eu realmente não posso mais pensar em você. Esteja sempre bem.

Encerrando a carta, à mão ela assinou seu nome e fez uma última consideração em letras trêmulas:

Obs: Eu adoro você, teria sido ótimo descobrir se te amo.


Ele caiu em si, deixou de ser comum naquele instante e o mundo inteiro se tornou vazio. Abraçou o papel desesperadamente e fechou os olhos tentando se encontrar com ela naquele último abraço. Queria, mais do que qualquer outra coisa, fazer daquele o primeiro abraço de uma longe história.

Ela, apesar da carta, no fundo ainda tinha esperanças de que ele assim o fizesse.

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